O jogador Neymar, que foi alvo de memes e críticas pela forma física apresentada no retorno às atividades no Al-Hilal, nesta semana, tem ainda um longo caminho pela frente para se recuperar totalmente de cirurgia no joelho esquerdo. Há cerca de quatro meses, o atacante rompeu o ligamento cruzado anterior do joelho, em jogo pela seleção brasileira. Ele se reapresentou ao clube apenas na última quarta-feira.
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O tempo previsto de recuperação é de seis a oito meses, segundo os médicos que o operaram em Belo Horizonte. Mas, para Wagner Zaccani, referência no judô, preparador físico da Sogipa desde 2010 e ex-preparador físico da seleção brasileira de judô de 2012 a 2021, em casos como o de Neymar, o tempo pode ser ainda maior: de 10 a 12 meses. Segundo ele, desta maneira, o atleta teria condições de competir de maneira segura, com menos chances de reincidência da contusão. Assim, ele diz que jogador tem totais condições de perder a barriguinha que ficou evidente em sua reapresentação.
Fotos: Neymar é apresentado no Al-Hilal
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Zaccani explica que é normal atletas ganharem peso quando se recuperam de cirurgia. Isso porque eles diminuem consideravelmente a carga e a frequência de treinamento e, muitas vezes, saem da dieta. Ele admite, no entanto, que a imagem de Neymar o surpreendeu. Disse que até pensou se tratar "de uma montagem".
— É normal (ganho de peso) mas a gente não espera isso de um atleta profissional. Se eu, que tenho conhecimento do processo que atletas de alto rendimento se submetem para voltar à boa forma me surpreendi, imagine o torcedor que não vai levar em consideração esse detalhamento. Eu diria que é aceitável se reapresentar fora da forma ideal, mas até que ponto? Tem limites porque isso prejudica muito o processo de retomada.
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Ele explica que, no caso do judô, modalidade em que os atletas precisam se manter nas categorias de peso, o protocolo para os atletas da seleção é se apresentar com cerca de 5% acima de seu peso de competição. Isso porque, segundo ele, com o trabalho multidisciplinar e com carga de treinamento, eles conseguem de forma segura entrar no peso ideal.
— Ter de perder mais gordura influencia negativamente em todo o processo e na performance no tatame — explica o profissional que ajudou Mayra Aguiar quando ela rompeu o ligamento cruzado anterior do joelho esquerdo, em 2020, e depois foi medalhista de bronze nos Jogos Olímpicos de Tóquio. — Com certeza a equipe de Neymar vai auxiliá-lo de forma assertiva e, se tratando de um atleta com lastro fisiológico, responderá rapidamente. A questão é que não queremos ver um craque como ele nessas condições... Isso gera polêmica, cobranças... Ele apareceu em cruzeiro, fez festa... É preciso se cuidar. Entende-se a situação, claro. Pode acontecer. Mas, (entende-se) até um certo ponto.
O fisiologista André Lopes, doutor em Ciências do Movimento Humano e docente de cursos para treinadores para a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), acredita que não se pode analisar a situação física de Neymar com base apenas em fotos. E que não se deve resumir o ganho de peso de Neymar apenas ao descuido. Acrescente que não é sabido se ele se manteve em atividade nem se seguiu dieta específica.
Segundo ele, isso seria um erro, uma vez que "não é só fechando a boca" que se perde ou se mantém peso. Explica que é necessário uma adequação de dieta satisfatória e progressiva que dê a sensação de saciedade mas que seja de densidade calórica mais baixa:
— O nosso cérebro é primitivo e básico e nos promove armadilhas. Buscará a maior reserva energética porque foca na sobrevivência. — diz. — O gasto energético tem de ser condizente com a necessidade física de cada um. O atleta de alto rendimento precisa de altas calorias porque gasta muito. Mas quando para, como no caso de contusão, ou quando diminui a carga de treinamento consideravelmente, precisa de um "destreinamento" do cérebro também. Tem de dizer ao organismo que não precisa mais de tantas mil calorias. Porque o cérebro pede a mesma quantidade de calorias de que está acostumado quando há gasto intenso
Assim, de acordo com o fisiologista, há um conjunto de fatores que podem levar um atleta do nível de Neymar a acumular gordura em uma fase como essa.
— Acontece também com pessoas que treinam para manter a saúde e tiram férias. Se não é bom para a gente, imagine para quem tem gasto calórico como atleta de alto nível. Não basta querer, é preciso conscientização por parte do atleta e de sua equipe tanto na questão do "destreinamento" quanto na tentativa de mantê-lo em atividade, sem parar totalmente a atividade física — pondera. — Neymar é uma joia e com certeza está cercado dos melhores profissionais para auxiliá-lo nesta busca da melhor forma física. Não se deve culpar esse ou aquele. Isso vai além discussão lógica popular.
Esse é um ponto destacado também pela nutricionista Roberta Lima, que trabalha com atletas profissionais do taekwondo, judô e vôlei de praia, e amadores de corrida e triatlo. Segundo ela, o ideal é não parar totalmente a atividade física, trabalhar os conjuntos de músculos que não estão ligados à contusão.
— O ganho de peso nessa fase é multifatorial. Além da queda abrupta do gasto calórico, tem a ansiedade que pode gerar aumento de apetite, e tem ainda a falta de meta, de calendário, que leva a um descuido na dieta, entre outros — analisa. — Por isso, seria importante se manter em atividade, dentro do possível, para evitar acúmulo de gordura.
Ela lembra ainda que, neste processo, o atleta perde massa magra e a composição corporal fica diferente, com mais flacidez, "dando a impressão de estar mais pesado do que geralmente estaria".
— A gordura ocupa mais espaço que a massa magra. O volume é diferente. A impressão, visualmente falando, piora muito. Então, no mundo ideal, o atleta deveria continuar a treinar e a se cuidar. Até porque, para o atleta de alto rendimento, é o detalhe, a vida que levamos, que faz a diferença. Mas, antes de tudo, temos de lembrar que todos somos seres humanos.